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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Inquietação

Estou triste. Só não sei de devo ficar triste com os outros ou comigo mesma. 
Essa sensação de vazio não  me deixa, aliás, ela só aumenta. E eu não consigo entender...Não consigo ME entender.
Estou triste por amizades perdidas sem um motivo real (ou pelo menos um que eu entenda). Estou triste por ser tão indiferente, tão insignificante para pessoas que tem um espaço especial na minha vida (meu maior motivo de tristeza ultimamente). 
Sinto que está na hora de rever meus conceitos.
Comecei esse blog com um texto sobre a faxina da alma. A limpeza que temos que fazer dentro de nós mesmos. Mas poxa! Eu não esperava que seria tão difícil!
Como todo bom egoísta, transfiro a culpa de me sentir assim, de mim para os outros. Se cada um conseguisse ao menos admitir suas fraquezas, enxergar seus defeitos, acredito que passaríamos a ser ao menos mais compreensivos com os erros alheios. 
Só para não fugir à regra, rs, deixo um texto de Álvaro de Campos, perfeito se você estiver disposto refletir um pouco.


POEMA EM LINHA RETA



Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo. 
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, 
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, 
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; 
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, 
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado 
Para fora da possibilidade do soco; 
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, 
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo 
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, 
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana 
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 
Ó principes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses! 
Onde é que há gente no mundo? 

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que venho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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